Resumo
Introdução: a infecção por SARS-CoV-2 em crianças representa um percentual menor do que na incidência global de pacientes infectados por esse vírus. O teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) para SARS-CoV-2 em uma amostra de secreções nasofaríngeas é considerado o padrão de referência, com níveis de sensibilidade e especificidade mais elevados do que outras técnicas.
Objetivo: descrever as características dos pacientes menores de 15 anos de idade que realizaram PCR para SARS-CoV-2 em uma prestadora de saúde privada do interior do país entre 1º de julho de 2020 e 30 de abril de 2021. Analisar possíveis fatores associados à positividade do teste. Descrever as características dos casos com PCR positivo.
Metodologia: estudo observacional prospectivo com análise retrospectiva caso-controle a partir do acompanhamento de uma coorte de crianças menores de 15 anos que realizaram teste de PCR para SARS-CoV 2 no período analisado, em uma assistência médica de saúde no interior do país. Os dados foram coletados durante o acompanhamento dos pacientes de acordo com o protocolo institucional e incluíram: informação pessoal, motivo da solicitação do PCR, características do contato, resultado do PCR e limiar de ciclo (CT), manifestações clínicas e evolução.
Resultados: foram solicitados 2.361 PCRs de menores de 15 anos (15% do total de PCRs da instituição). Idade média 8,6 anos (variação 7 dias - 14 anos e 11 meses); 49% meninas e 51% meninos. Motivo do pedido do exame: 78,4% por estudo de contato, 14,3% por sintomas sem conhecimento de contato e 7,3% antes da internação (por emergência ou coordenação). Porcentagem de positividade para todo o período 14,7% com significativa variabilidade mensal (5,6% em dezembro e 27% em abril). O PCR foi positivo em 346 casos, com média de TC de 27 e variação entre 16,8 e 37,3. Não foram encontradas diferenças estatísticas em relação à idade e sexo entre os casos positivos e negativos. Apenas 1 caso foi PCR positivo antes da admissão hospitalar (OR 0,03 IC 95% 0,004 - 0,22) e 20 dos 611 PCR solicitados por contato institucional (escola, centros de esportes, etc.), sendo a diferença estatisticamente significativa para os casos que tinham mais de 15 anos de idade (p 0,029). Do estudo retrospectivo de casos (PCR positivo) e controles (PCR negativo), emergiu uma associação estatisticamente significativa (p <0,000001) quando: a causa da solicitação do teste tinha sido um contato positivo prévio em relação a outra causa (OR 5,2 IC 95% 3,28 - 8,26), e quando o caso índice era mais velho do que 15 anos (OR 4,57 IC 95% 2,95 - 7,10) ou coabitava com o paciente (OR 5,28 IC 95% 3,97 - 7,04). Não houve internações ou óbitos por COVID na população analisada.
Conclusões: a testagem de crianças e adolescentes em busca de COVID-19 continua sendo uma estratégia válida quando há sintomas sugestivos ou contato com um caso positivo confirmado. Neste estudo, crianças com histórico de contato com casos positivos na mesma casa e mais velhos do que 15 anos de idade apresentaram maior proporção de resultados positivos de PCR para SARS-CoV-2.